domingo, 18 de abril de 2010

As Melhores coisas do Mundo

O que você faria, quando adolescente, se seu pai separasse de sua mãe para viver com um homem mais jovem? "Eu me mataria", "Seria um pesadelo, um massacre na escola" foram algumas das respostas dadas por alunos de escolas particulares de São Paulo ao casal Luiz Bolognesi e Laís Bodanzky, roteirista e diretora do longa As melhores coisas do mundo, que estreia no dia 16 de abril em 150 salas de cinema do país. As emoções adolescentes, sem juízo de valor, estão fielmente representadas no longa – carregadas de hipocrisias, preconceitos e ideologias, do jeito que são na vida real.

Convidada para fazer um filme sobre a vida de um garoto de 15 anos de classe média da zona Oeste de São Paulo, Laís teve a ideia de sentar junto a adolescentes da vida real para criar o roteiro. Segundo Bolognesi, os jovens pediram que o filme os retratasse de verdade, e não caísse nos estereótipos de jovens drogados, da "geração perdida", ou no besteirol da dicotomia entre nerds e "pegadores". Os adolescentes também adicionaram ao roteiro a difusão instantânea de informações (e fofocas) que o celular e a internet permitem."Eles falavam para não colocar gente mais velha fingindo que é nova. Se o personagem tem 15 anos, o ator tem que ter 15 anos", afirma Laís, sobre o que normalmente acontece em filmes e novelas. A saída foi contratar não atores para boa parte do elenco, entre eles Francisco Miguez e Gabriela Rocha, que vivem o protagonista Mano e sua melhor amiga, Carol. "Eu queria o frescor. Eles tinham a liberdade de pegar o texto do roteiro e colocar nas suas próprias palavras", afirma Laís. Também constam do elenco Denise Fraga, Paulo Vilhena, Caio Blat, José Carlos Machado, Gustavo Machado e Fiuk (o ídolo teen, filho do cantor Fábio Jr.).

Laís e Bolognesi descobriram que muitos dos medos que eles tiveram quando passaram pela adolescência não mudaram depois de tantos anos. Os adolescentes de hoje continuam sem saber como lidar com as escolhas que irão moldar seu caráter no futuro, se confundem com beijos fugazes em festinhas, não saem transando com qualquer um e não vivem uma vida de esbórnia, envolvida por álcool e drogas, ao contrário do que os pais pensam. A maioria circula por vários grupos, morre de medo de ser excluída, gostaria de se destacar entre os amigos, no entanto, quando alguém realmente se destaca como diferente –- sendo muito inteligente, homossexual ou extremamente calado –, é posto de lado. "As meninas pensam que são diferentes se ficam com outras meninas nas festas, por exemplo. Elas têm status, é legal. Mas quando fica claro que o barato de uma delas é o sexo feminino mesmo, ela é classificada pelo grupo. Quando aparece uma pessoa única, eles rejeitam", afirma Laís, que retratou isso no filme através de Bruna, uma garota lésbica.

Miguez, de 15 anos, e Gabriela, de 16, ficaram encantados com toda a parafernália da produção. "Eu não imaginava que tinha um cara que só controlava a iluminação", diz a garota, que está no terceiro ano do ensino médio. "No começo, fizemos os testes para elenco mais como uma brincadeira, porque os amigos também foram", afirma Miguez. No set de filmagens, a diversão continuou. Eles não tinham que decorar nenhum diálogo, apenas falavam o que estava no roteiro de um jeito natural, como diriam na vida real. Por isso, talvez, tiveram que gravar uma mesma cena diversas vezes – repetição frequente ao longo das gravações. Para um adulto que assiste ao filme, fica a pergunta: "Será que tudo isso realmente acontece? Será que o longa é fiel?". "Sim, tudo o que acontece no filme eu já vi acontecer, mais ou menos próximo de mim. É totalmente fiel", diz Gabriela. Enquanto Miguez curte sua dúvida adolescente, "sem ter que ser menosprezado por causa disso", Gabriela parece que sabe qual caminho percorrer. "Eu queria ser médica legista, mas estou preferindo ser atriz, porque não quero fazer faculdade agora..."

0 comentários:

Postar um comentário